quarta-feira, 9 de outubro de 2013

o dia em que eu não fui eu

 
 
 


na maior parte dos dias, a gente se sente meio invisível.
tem tanta gente passando pra lá e pra cá sem nem olhar pro lado, sem nem olhar pra gente.
ninguém vê que tem alguém ali, olhando, observando, esperando. esperando que hoje alguém passe de novo pra trazer luz pros nossos olhos, pro nosso dia e pro nosso mundo.
e não é assim só pra mim.
por uns 15 anos, era sempre assim: ela passava, o garoto percebia cada detalhe nas linhas do rosto, em cada fio de cabelo, nas roupas que pareciam ter pulado direto do cabide pro corpo dela.
e, assim como ela passava, o tempo também passou.
pra ela e pro garoto e pra todo mundo. e ele, bobo ou tímido, nunca tinha se levantado e dito o quanto ela fazia diferença naquela vida mais ou menos que, de vez em quando, a gente tem.
ele já não tinha mais o mesmo tempo pra "ficar esperando" que ela passasse, mas, em alguns dias, ela passava sim pelas suas lembranças, com aquele jeito, charme e estilo que eram só dela.
e ela também já não passava pelos mesmos caminhos. os caminhos que, talvez, ela trilhava agora, eram outros.
mas quis o destino (se é que ele existe e se é que ele quer), que os caminhos dos dois se encontraram num dia. e foi nesse dia, que o menino resolveu pra olhar pra trás.
a vida dele agora era mais ou menos ainda mais. quase nada pra trazer luz pros seus dias, pro seu mundo, pra ele que tava tão cansado.
e, anos depois, ela fez o que fazia todos os dias em que passava. ela trouxe a luz que faltava, a paixão, a vontade, o desejo de sair do lugar. esses mesmos sentimentos que fazem a gente viver por alguma coisa.
ele, agora mais maduro, finalmente, teve a coragem que lhe faltara anos atrás e falou tudo o que tinha dentro dele.
e teve a melhor resposta possível. ela não iria mais passar por ele. ela ia ficar. ficar e manter sempre a luz acesa, a chama alimentada e a coragem de viver, de sentir, de amar.
e, sem que ninguém precisasse dizer nada, a paixão tava ali, o amor tava ali.
em alguns momentos, eram só deles e as palavras eram altas.
em outros, os olhos falavam o que não podia ser dito.

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