sexta-feira, 9 de março de 2012

eu tentei...

engraçado.
de certa maneira, recebi a conversa do começo da noite dessa sexta quente e querendo ser chuvosa como um desafio.
será que eu consigo escrever com historinha?! eu, famosa por sempre gerenciar minha equipe de criação contando historinhas sobre os clientes que visito?!?!
bem,vamos lá que esse promete ser um texto mais longo.
março de 1987, na mais renomada escola de sua área no país, a única vestibulanda que escreveu o nome daquele professor como resposta a uma pergunta no vestibular há 2 anos e meio, fala delirantemente em alto e bom som, bem no meio da aula: ai, que tédio!
a sala para. o professor suspira, se vira e diz: garota, você não tem jeito mesmo. você terá presença em todas as minhas aulas e 10 em todos os meses SE prometer nunca mais aparecer nas minhas aulas, combinado?!
a garota, que mais parecia um garoto, diz sem nem pensar: combinado, professor. posso ir agora então?!
ele se vira novamente e diz: tchau.
a garota continua o curso, alternando as aulas que quer ou não assistir, continua dando trabalho pra outros professores e a vida continua como devia.
agosto de 1988. teatro cultura artística. cerimônia de formatura dos alunos da turma de 84. e quem está no palco, como paraninfo da turma?! o tal professor. e sentadinha, ainda vestida como moleque, mas de smoking (o traje era "a rigor") numa das poltronas entre os formandos?! a garota entendiada, ainda.
os nomes vão sendo chamados e os alunos, agora um pouco menos descuidados mas muito mais prepotentes, recebem os parabéns e blábláblá, até que o nome da garota é chamado e ela sobe no palco, envergonhada - apesar de tudo, sempre foi tímida. e a vergonha aumenta quando o professor pede o microfone e licença ao presidente da mesa para uma pausa e começa seu discurso, com a garota roxa de vergonha, ainda nas escadas.
e ele diz: "muito bem, senhorita. essa é a última vez que nos vemos como professor e aluna. quase todos aqui presentes sabem o trabalho que você deu a todos os professores durante todo o curso, mas... ainda assim, sua turma ganhou todos os prêmios das associações de nossa categoria e todos sabemos que isso não teria acontecido caso você não os perturbasse tanto quanto a nós. sendo assim, e lembrando o fato de ter sido a única vestibulanda a ter acertado o nome do criador da poesia práxis - ainda que seja admiradora da poesia concreta, esse seu velho professor, gostaria de te oferecer uma lembrança - a coleção completa dos meus livros. mesmo sabendo que nenhum deles será lido, peço a você que leia em alto e bom som (aquele mesmo com o qual dizia que minhas aulas eram um tédio), minha humilde dedicatória.
a garota suspira, recupera a cor, caminha, recebe o aperto de mão e um forte abraço do professor e, totalmente sem jeito, pega o livro e lê a tal dedicatória: a k... - a fundamental - em reconhecimento deste velho poeta a uma jovem garota que sempre diz o que sente e que conhece poesia como poucos nesse país, o meu agradecimento e sincera admiração.
naquele momento, a garota deixa que a lágrima escorra, os amigos das aulas gritam, assobiam e deliram, e o professor sorri, tranquilo.
julho de 2011 - morre em são paulo mário chamie, ariano de primeiro de abril, criador da poesia práxis, secretário da cultura do estado de são paulo e professor. a garota, agora mulher, volta a deixar as lágrimas escorrerem de um rosto tranquilo.

p.s. desculpe, mas o estilo da estrutura narrativa foi vergonhosamente "roubado" de um outro professor, dessa vez de biologia!

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